sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Vive la France

Todos homines bonae voluntatis têm nojo da França contemporânea, isso é claro, quem é que em sã consciência vai gostar da terra do marechal Pétain? Mas esse nojo não precisa se estender à França real, terra de Joana d'Arc, Luís IX, Henrique IV, Lully, Rameau, Ronsard, Racine e tantos outros. Para não sujar a boca com a Marselhesa, existe a canção apropriada para esta França, Vive Henri IV:



É uma canção, ao visto, escrita pelo importante compositor de Carroy, o mesmo que comporia o Requiem para os reis da França. Ela foi feita em celebração ao rei Henrique IV, que publicou o Edito de Nantes entre muitas outras coisas, que lhe valeu o título de Le Grand. Mas com o tempo tornou-se muito popular, com o uso cada vez mais frequente da Marselhesa pelo governo revolucionário, ela ganhou um significado ainda maior, passou a representar e unir todos os que desejavam a restauração, de modo que nos anos subsequentes (e até hoje) ela passou a possuir esse forte significado. Apesar de hoje não muito famosa, ela é importante na história cultural. Há dois momentos de que me lembro, no final da ópera Il Viaggio a Reims, ela é citada e cantada por toda a orquestra, e chegando no final de Guerra e Paz um prisioneiro francês inicia a canção que logo se espalha para todos, russos e franceses. No primeiro caso é o símbolo triunfante da restauração dos bourbons, pois a ópera foi escrita para a comemoração da coroação de Carlos II da França, e ela é basicamente uma espécie de Congresso de Viena musical.; no segundo caso, é o símbolo mais profundo da derrocada de Napoleão, o sinal da restauração que há de vir. No filme de Sergei Bondarchuk esta cena é muito bonita:



PS: Acabei de saber que tal canção também aparece no final do balé A Bela Adormecida de Tchaivkosky, em outra referência à França real.

Nenhum comentário: